31 March 2012

Sonhos

Estou no mar. Sei-o pela ondulação que sinto no corpo. É como se, de repente, tivesse saltado para fora do meu corpo, em terra firme, e voado numa direcção desconhecida. Já não sinto o meu corpo. Ele está em terra. Mas sinto essa ondulação que identifico com o mar.

Mergulho. O som transforma-se em silêncio. As cores são diferentes. Tudo mais azul. Filtrado por essa barreira lá mais acima. Mas eu vou para baixo. Mais escuro. Peixes nadam ao meu redor. Para eles é fácil. Eu não respiro. Não posso respirar. Mas também não preciso. Continuo a nadar. Não me interessam os peixes. Procuro outra coisa. Algo mais precioso. Algo que necessito. Quero respirar. Subo. Não encontrei nada. Subo mais. O ar está mais acima. Acima dessa barreira que filtra luz e cor.

Respiro. Inspiro o ar com força como se fosse a primeira vez. Se calhar é a primeira vez desta vida... Mais luz. Muita luz. Procuro algo. Não sei o quê. Ainda não sei. Mas procuro. Sei que tenho algo a procurar, algo a encontrar. É esse o objectivo. O caminho? A própria vida, talvez.

Sonhos

Sonhei... aliás, sonho muitas vezes. Mas desta vez foi com uma caixa. Mais parecia um baú. Sim, isso. Um baú. Ou talvez uma arca. Como é que se podem dar tantos nomes diferentes a coisas em madeira, de lados rectangulares, perpendiculares entre si, e que servem essencialmente para guardar coisas. Muitas coisas.
(Mas já me estou a desviar do sonho.)

Sonhei com uma caixa em madeira que... A madeira dessa caixa estava trabalhada com gravuras que não me recordo. Penso que não seria o mais importante. Vejo alguém, não sou eu, mas não sei também quem seja, se calhar era eu. Abro a caixa, apenas um pouquinho, apenas para espreitar lá para dentro. Curiosidade. Procura. Investigação. A tampa abre-se lentamente. O interior é mais luminoso que cá fora. Sai luz da caixa. É possível, é um sonho. E lentamente abro um pouco mais. Os olhos habituam-se à luz e já nem noto a diferença. Quando a tampa está um pouco mais aberta, começam a voar pássaros para fora. E borboletas.

... e acordo.

14 March 2012

Envelhecimento activo (nas palavras de Maria Brito de Azevedo)

Maria Brito de Azevedo
A noção de envelhecimento ativo remete-nos, comumente, para uma aceção mais direcionada para os desafios demográficos e suas implicações sociais e económicas e, embora reconheça a pertinência dessas questões, bem como, a sua complexidade, trespasso esse papel a quem o devir.
Como enfermeira cuido na simplicidade. Cuido de pessoas. Não cuido de números.
Perdoem-me, mas a mim não me interessam estatísticas. Não me interessam normas. Não me interessam regulamentos. Não me interessam números.
Almejo a autossuficiência da Pessoa. Almejo que as Pessoas se conheçam. Verdadeiramente. Que compreendam os meandros da mente sobre o corpo. E que resgatem o seu poder. Almejo consciencializar as Pessoas que há qualidade de vida para além do espetáculo de marionetas da nossa mente. Que entendam que a melhor prescrição, que a melhor regulamentação, que as melhores diretrizes são aquelas criadas dentro de mim. E que a melhor farmácia e o melhor consultório habita em mim.
Como cuidadora quero saber quem são as Pessoas na sua essência e, acima de tudo, que elas saibam quem são. Que se questionem porque recorrem a bengalas prejudiciais à sua saúde, ao seu próprio ser, ao que de mais precioso têm…o seu Eu. Porque fogem do Amor-próprio.
Culturalmente, temos um longo caminho a percorrer, pois construímos demasiados estereótipos sobre a noção de envelhecimento. Construímos atores externos e delegámos-lhes funções que deveriam ser nossas. Fantasiámos sobre os seus poderes, construímos personagens sábias e eruditas mas, acima de udo, externas. E minimizámos o Actor principal. O Eu que em mim habita.
Mudemos o discurso, redirecionemos o nosso olhar. Pensemos em saúde, pensemos nas “pessoas enquanto pessoas” (Comissão Independente População e Qualidade de Vida, 1998). O envelhecimento ativo não pode ser “bem-sucedido” repetindo e generalizando padrões, como se de números se tratasse.
Que espécie de mundo teríamos se a padronização da noção de envelhecimento ativo fosse sinónimo de saúde? Certamente, teríamos um mundo uniforme que numa primeira análise traria benefícios pois deixaria de ter um carácter subjetivo. Para além disso, a padronização ilibar-nos-ia do sentimento de culpa relativamente às nossas ações, ilibar-nos-ia da responsabilidade, pois estaríamos simplesmente a replicar o que está padronizado e, em última instância, aceite.
Compreender que o mundo e que o papel mais ou menos ativo do envelhecimento é fruto de nós mesmos, dos nossos constructos é o primeiro passo. Tarefa difícil, é certo. Contudo, é o seu carácter desafiador que o torna aliciante.
Questionar sobre qual o papel do enfermeiro no envelhecimento ativo é questioná-los sobre quem são e sobre quem querem ser. Qual a nossa perceção de envelhecimento ativo? É de Amor ou de Medo? A resposta deliberará o futuro. O nosso futuro enquanto cuidadores e inevitavelmente o futuro de quem cuidamos.
Subscrevendo António Fonseca (2006), a forma como concebemos o envelhecimento afeta a forma como o envelhecimento é aceite pelos demais o que por sua vez tem repercussões ao nível dos comportamentos adotados. Então, como desejamos ou, melhor, como idealizamos um envelhecimento ativo?
Poderão ser criadas todas as políticas, todos os programas mas estes nunca resultarão se a dúvida e os estereótipos persistirem.
Tudo está. Tudo é. Tudo começa. Tudo termina na mente.
Já que é para fantasiar que fantasiemos sobre um novo e intransmissível conceito de envelhecimento ativo. E não nos deixemos contagiar por conceções culturais, económicas, políticas e tudo o que nos seja exterior. Fantasiemos sobre o nosso próprio envelhecimento. Criemos a nossa própria realidade.

06 March 2012

Parabéns

... a ti, nesta data querida.

O meu caminho separou-se fisicamente do teu, mas desejo criar e manter uma ligação, uma ponte de comunicação contigo. Muita sorte para o teu futuro, muita força para conseguires mudar o mundo e transformá-lo num local melhor.

Como prenda? Envio-te Amor!...

04 March 2012

Escutar

Hoje é outro dia. Diferente de ontem; certamente diferente de amanhã.



É possível que ande atrás de um sonho... Corrijo. Estou de facto atrás de um sonho. Um sonho que quero que seja real. E sei que o Universo está comigo a ajudar-me. Coloca as situações certas no local certo e ajuda-me a tomar decisões. O que apenas devo dar em troca é reconhecimento, energia, Amor e escuta. Escutar parece ser o mais difícil. Penso que seja o mais primordial no ser humano - a capacidade de escuta do Universo - pois só assim se explica o desenvolvimento que este ser apresentou nos últimos milénios. Mas penso também que é o sentido que menos é utilizado. Sei que para mim é difícil escutar o Universo. Dou por mim a ser tão ruidoso que só me ouço a mim mesmo. E é preciso estar muito, muito, muito em silêncio para ouvir o Universo. Silêncio por dentro. E depois de o ouvirmos, é só prestar atenção, procurar o sentido das palavras e sentimentos e sons que nos invadem para escutar o Universo. E se é "só" necessário isso, porque é que não o fazemos constantemente? Eu sei hoje que uma voz dentro de mim, a mesma voz que me oferece a individualidade, fala mais alto que o resto do Universo.

Eu grito enquanto o Universo murmura.

E só preciso calar-me para escutar o Universo.