26 April 2012

Viagem a mim

Janto à luz da vela. Ela queima a cera e o pavio e deixa no ar uma pureza particular. Aquela luz traz um calor próprio e liberta como que uma energia positiva, uma vibração relaxante e calma.
Acabo a refeição e oiço a conversa ao meu redor, como se não fizesse parte dela. E a conversa assim segue, alheia a mim, e os meus pensamentos longe dela. Os meus dedos roçam a toalha e já apenas escuto o seu barulho contínuo. Dão voltas num oito interminável, num infinito simbólico.

E, aos poucos, afasto-me desta realidade.
 Vou e venho com o ar que me entra pelas narinas. Sinto a pele que respira também e se expande e contrai à medida que respira, à medida que troca energia com a substância que a rodeia. Não há mais estado físico ou sólido ou líquido. Tudo é como uma gelatina maleável, permeável, sem fronteiras definidas. Olho para mim como se não fosse eu. Mas ainda me sinto.

Começo então à procura de mim dentro de mim próprio. Algo que seja realmente eu. A minha essência. Identifico-me com uma forma dentro do meu peito. Sou azul. Penso que é isso: azul, mas não tenho a certeza. Porque sou branco também. E tenho em mim todas as cores. Não tenho forma definida mas pareço redondo. Uma esfera disforme, que se contrai e expande, reagindo a emoções, sentimentos e outras formas de energia. E é esta esfera que traz a mim energia e movimento, alegria e força. Ela inunda o meu corpo, que deixa de ser apenas uma massa e passa a ter vida.