24 January 2013

Conto


  O sino tocou. O Sol no seu alto anuncia o fim da jornada no campo. A torre da igreja orienta no regresso a casa. Pelo caminho é necessário molhar os pés para passar a ribeira que hoje corre. Não é costume nesta época, mas a chuva da véspera ainda desce a encosta. A chuva humedece a terra e lava as almas dos homens e mulheres que se escondem na protecção das telhas barrentas. E por isso a luz neste dia é diferente, tudo brilha mais.
 
  Já próximo da aldeia é necessário baixar a cabeça, mesmo para um homem pequeno, para continuar o trilho. A Natureza criou uma espécie de portal para lembrar as pessoas de olhar para a Terra e ver que é Ela que dá Vida e de onde tudo provém. Agora, do outro lado do portal, sentimos no ar a protecção da aldeia. Esse calor no coração que dá alento. Esse contraste com o vento frio da serra e do mato, que corta a pele e tenta roubar a chama da alma de todos os que se atrevem a lá permanecer.
 
  A torre continua à vista como um farol. Orienta os Homens que regressam a casa e guia as almas para a sua verdadeira morada.
 
  A pouca distância do povoamento vê-se a primeira casa. Da sua chaminé sai um fumo tímido e a imaginação leva-nos para junto do fogo que lhe dá origem. A cuidar das chamas está uma mulher com o seu bebé nos braços. Também ela ouviu o sino e sente cada vez mais próximo o calor do coração que desce a encosta e se aproxima do seu.

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