Sentei-me. E respirei fundo.
Lá fora chove, venta e o frio húmido tenta entrar pelas
pequenas frestas de cada janela. Hoje queria consultar as fadas da floresta. As
minhas idas anteriores ao centro da ilha foram infrutíferas, não as encontrei.
Sei que elas lá estão, às vezes sinto que elas me vêm visitar aqui à beira mar,
mas ainda não foi o momento de se mostrarem. Ainda não tive esse privilégio.
Agora que penso nisso, não sei bem o que lhes perguntava,
tanta coisa para saber. Sobre a Natureza, as plantas que crescem e que
alimentam e as que curam e todas. E sobre os animais, também. Mas também sobre
a Vida e sobre o Amor. Qual é o caminho para a Felicidade? Se o Amor está em
tudo à nossa volta, porque é que os Homens têm tanta dificuldade em encontrá-lo
e continuam sempre à procura, precisamente onde ele não está: nas coisas que se
compram e as que se gastam e nos corpos uns dos outros?
Oh, mas eu não sou puro para receber esse conhecimento.
Também eu procuro o Amor onde ele não está. Sei onde procurar, mas não o vendo,
ingiro um cálice de sangue que me deixa esquecido do que me faz falta. O seu
efeito dura apenas uns dias, às vezes nem tanto e lá estou eu de volta à
procura. Se me esqueço do que procuro, agarro-me à carne e aos seus vícios e a
tudo o que é matéria. Mas eu já sei o que procuro. E quero mais do que uns
cobres. Quero uma riqueza inatingível nesta realidade. Quero a plenitude do
ser. Nirvana.
Ainda chove lá fora.
Respiro.
Procuro o silêncio agora, quero viajar.
Entro em mim. Já não vejo as cores do mundo externo.
Solta-se vermelho do meu coração. Aquece-me. Procuro o verde de um prado que eu
não conheço, vejo-o agora. Há árvores mais ao fundo. O céu está azul, com
algumas nuvens altas. Aqui não chove. Começo a caminhar em frente. Olho, de
relance, para trás e vejo uma floresta negra. Continuo para diante. A erva está
alta e cobre-me os joelhos. Ainda me sinto pesado e cansado, como me sentia no
mundo terreno, mas sei que o que está em mim pesado já ficou para trás.
Continuo e não sinto os passos. Vejo um pouco de medo no meu coração. Medo do
que não conheço e do que enfrentarei. Aqueço o meu coração com palavras de
conforto e presença. Para entrar neste mundo novo, é preciso ser cheio de Amor
e Alegria. Não ter dúvidas nem medos a prender ao mundo antigo.
Racionalizei. Voltei à casa antiga com chuva lá fora. Hoje
não fui longe. Pode ser que amanhã a minha mente me deixe ir um pouco mais
longe. Ela tem de se calar para poder escutar a voz do meu coração, ele é o
timoneiro nesta viagem. Sinto o frio e procuro um casaco. Aqueço-me com uma
manta que tenho a meu lado e com um chá e com uma memória de quantas pessoas
não estão agora presentes a meu lado. Não neste mundo material. Tento recordar
tudo o que vivi nesta viagem. Mas hoje não fui longe, não há muito para
esquecer. Tento recordar que quero encontrar as fadas que vivem nessa floresta
mais ao longe. Quando lá chegar elas falarão comigo. Mas tenho que caminhar
antes.
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